Mulheres e política: uma luta diária contra a descredibilização das nossas vozes
- Bruna Basevic
- 19 de set.
- 3 min de leitura
Por: Ana Magnani

Mãe de quatro e avó de uma; Educadora-Pedagoga pela UNESP/FCLAr; Sonhadora em busca constante por outros mundos possíveis para a educação; Mestra Pesquisadora em constante processo extensionista pela UNESP/FCLAR. Doutoranda em Educação pela UNESP/FCLAr
buscando conhecer os sonhos das crianças e como estes impactam sua permanência e
desenvolvimento escolar. Artista-arteira-brincante, Arte-educadora nos Saberes Populares com a Carroça de Mamulengos/A Casa Tombada. Aprendiz inveterada das crianças que compartilham seus saberes nos encontros programados e, nos outros tantos espontâneos, em diferentes espaços e contextos. Além disso, tenho escutado mulheres nos mais diferentes contextos buscando tecer com elas, redes de cuidado e proteção.
Salve Dilma, Erondina, Filipa, Benedita, Célia, Sâmia, Fabi, Duda, Luna, Thainara, Erika, Sonia, Marielle, entre tantas e tantas outras mulheres que exercem cargos políticos nesses Brasis! Salve!
Penso o tema mulheres na política e considero, o que devo escrever sobre elas?
Dizer que são agentes de mudanças, defendendo temas fortes, assuntos incômodos a essa sociedade que ainda reproduz o modelo colonial de mundo, no qual, o patriarcado, segundo Silvia Federeci, é seu pilar fundamental, seria somente reafirmar as lutas que empreendem todos os dias.
Mas, muitas pessoas não compreendem as dificuldades que enfrentam por não ter consciência sobre a forma como o sistema patriarcal insiste ainda em querer subordinar as mulheres, desvalorizando o nosso trabalho, explorando o nosso corpo, retirando a nossa autonomia; e o esforço empreendido por essas mulheres, nas mais diferentes instâncias do poder, é por nos representar contra esse sistema de exploração.
Uma luta diária.
Afinal, o patriarcado não descansa e para se manter dominante desenvolveu práticas de poder, isso é, lógicas internas de funcionamento do seu poder que perduram para além do período colonial: o machismo, o racismo, a xenofobia, e até a própria organização de gênero.
Ele impõe cotidianamente violências contra os corpos femininos: seja através da objetificação, das imposições, do controle, da invisibilidade, da sobrecarga e da insegurança. E tudo isso visa privilegiar os homens.
Nesse sentido, as mulheres que exercem cargos políticos precisam defender pautas urgentes para as mulheres, mas, também, para a sociedade como um todo. Podemos citar por exemplo:
- A luta por um orçamento justo para a construção de uma rede de enfrentamento e proteção às vítimas de violências;
- Luta contra a fome, pois as representantes femininas compreendem a importância da garantia ao acesso a uma alimentação de qualidade a todas as pessoas e, principalmente, as famílias mais vulneráveis a insegurança alimentar;
- Luta contra o feminicídio e a violência sexual pois, apesar de todos os esforços empreendidos, essas violências contra as mulheres continuam a aumentar;
- Luta contra a violência policial que exige mudanças nas políticas de segurança pública; principalmente quando essas políticas promovem o genocídio de nossas crianças e jovens, seja por serem pretos ou por serem trans e travestis;
E entre as tantas lutas desempenhadas todos os dias está a prioridade entre todas: assegurar o direito à vida para todos.
Porém, para além desses temas fortes enfrentados a todo tempo, as mulheres que exercem cargos públicos enfrentam o mandato da masculinidade, que tenta, as descredibilizar, as desrespeitar, as desqualificar, negando sua existência e a sua competência dentro do espaço político.
Essas violências são exercidas de forma física, simbólica, psicológica, através dos discursos de ódio, do assédio moral e das desinformações.
Os homens tentam, de todas as formas, impedir e dificultar o exercício político por parte das mulheres.
Mas deixe perguntar, você sabe o que é mandato da masculinidade?
Considero importante explicar essa estrutura invisível que incide diariamente sobre os corpos das mulheres que exercem cargos públicos.
O mandato da masculinidade é um termo descrito pela antropóloga Rita Segato, que diz sobre uma estrutura violenta que orienta os homens sobre como devem se comportar para serem considerados “macho” e, desse modo, manter o poder em relações sociais patriarcais.
Esse mandato associa a masculinidade a dominação, ao controle, a repressão; e a forma como os homens se comportam pressionados por esse padrão de comportamento impacta a vida e a relação desses homens com as mulheres, desumanizando os próprios homens.
Esse mandato opera através dos poderes, sendo um deles o político, e as mulheres na política atrapalham o livre exercício desse poder. Por esse motivo elas são extremamente hostilizadas.
As mulheres que exercem cargos políticos, atrapalham o livre exercício da virilidade associada a dominação; mas a sua presença é essencial para a desconstrução desse mandato na nossa busca por um mundo mais igualitário.
Pois, a ausência das suas vozes nos espaços de poder enfraquece o diálogo, a qualidade da política praticada e a democracia.
Penso que, em um país no qual os assassinos de Marielle Franco ainda continuam a violar os nossos sonhos, o protagonismo das mulheres exercendo cargos políticos e sendo respeitadas nesses espaços, continua a ser uma emergência.






