Imagem da mulher e os dilemas entre cuidado, vaidade e reconhecimento social
- Bruna Basevic
- 4 de jul.
- 3 min de leitura
Por: Márcia Issenguele

De nacionalidade angolana. Residente no Brasil a mais de cinco anos. Atualmente é
cientista social, formada em Ciências Humanas, ministrado na Universidade da
Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e mestranda em
Ciências Políticas pela UFSCAR. Pesquisa sobre políticas educacionais em Angola e
representatividade feminina na União Africana. Faz parte do ELA desde o final de 2024.
Caras leitoras, essa leitura é daquelas que mexe um pouco com o nosso emocional, particularmente com quem vive a experiência de ser mulher. Seja ela negra, branca, quilombola, indígena, africana, etc. Este texto é feito por e para nós. Mulheres de todo o lugar que se identificam como mulher, pela feminilidade e o cuidado que carregam dentro de si.
Hoje vos convido a refletirmos sobre “os padrões impostos à imagem feminina e seus impactos emocionais”. Pois, nos últimos meses fiquei me questionando se nós mulheres temos de fato a liberdade para nos apresentarmos de qualquer maneira em qualquer espaço. Será que não existe uma normatização que dita o jeito que devemos nos apresentar para sociedade? E isso advém de uma cultura que adquirimos porque necessitamos o reconhecimento do outro ou simplesmente advém da nossa natureza feminina? São perguntas que não sei se tenho respostas, mas sei que cada uma de nós tem uma resposta para dar em relação a isso. Respostas que acredito estarem relacionadas com o meio social que crescemos e que estamos inseridas atualmente.
Independentemente da resposta que temos para às perguntas acima, todas são válidas. Fomos acostumadas a seguir um padrão para nos apresentarmos na sociedade porque não nos sentimos suficientes para acessar certos espaços. Seja porque o cabelo não está bem-arrumado, a roupa não é adequada, a maquiagem não está no ponto certo e diante disso caímos na cultura da comparação feminina. Uma comparação que traz consigo insegurança, medo, ansiedade e dúvidas do potencial que carregamos. Essa comparação contínua é parte de um processo mais amplo de controle sobre os nossos corpos e atitudes, que exige reeducação.
Com isso percebo que essa cultura da comparação não é um sentimento normal conforme se reproduz em vários discursos, é um sentimento que precisa ser desconstruído e reeducado. Porque constantemente passamos por um processo de reeducação de valores, normas e regras. Mas, para as mulheres, é sempre mais complexo. É como se para nós a mudança fosse algo imaginário e distante da nossa realidade, porque estamos aí para cumprir com a expectativa do outro e não a nossa.
Eu não estou a dizer que a imagem não conta, a imagem conta e não podemos simplesmente fingir que as regras não estão aí para serem cumpridas, elas precisam e devem ser cumpridas. Mas a crítica que faço é sobre essa necessidade excessiva posta sobre as mulheres, para cumprir e superar sempre a expectativa do outro. O confortável para mulher virou um alvo de análise e disputa. Até o nosso próprio corpo e estética são alvos de análise. O que é confortável para as mulheres tornou-se incômodo para a sociedade — não basta estar à vontade, é preciso seguir padrões e normas.
Isso é algo que nós mulheres precisamos refletir porque foi socialmente construído. Em parte, está intrinsecamente ligada à nossa feminilidade e vaidade feminina, porém, essa vaidade geralmente é fruto de uma pressão social disfarçada de “eu preciso estar linda para mim mesma”. Claro que precisamos estar lindas para nós mesmas, mas também precisamos reconhecer o quanto que nos colocamos sob pressão para tentar agradar à expectativa do outro.
Em função disso, nos submetemos a certas cirurgias colocando a nossa vida em risco por medo da passagem natural do tempo.
Poderia dizer mais coisas, mas, despeço-me dizendo que o autocuidado é fundamental e necessário para as mulheres, mas a nossa saúde mental e emocional vem em primeiro lugar. Viver uma cultura de comparação não faz bem para o nosso emocional, porque além de sermos mulheres, também somos mães, filhas, professoras, médicas, domésticas, esposas, etc. Portanto, cuide da sua saúde mental, mas não se submeta às pressões da sociedade simplesmente para cumprir padrão, seja quem você é na sua feminilidade.
“Seja o espelho que reflete a sua verdade — e não a expectativa de um padrão que nunca foi seu”.
Atenciosamente,
Márcia Issenguele
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