Por: Marli Dias Ribeiro
A frenética corrida do dia a dia, marcada pela constante busca por novidades e pela instantaneidade das informações, muitas vezes nos afasta da essência do Natal. Celebrar essa época especial requer mais do que apenas presentes e enfeites; exige uma profunda reflexão sobre nossos valores e a retomada da serenidade de estarmos juntos e verdadeiramente presentes.
O filósofo Heidegger (2000) nos alerta sobre a importância de desacelerarmos e cultivarmos o pensamento meditativo. A pressa constante nos impede de apreciar a beleza das pequenas coisas e de conectar-nos com o que realmente importa: a família, os amigos, a natureza, com o nosso eu/nós e com o espírito de solidariedade. Ao invés de nos deixarmos levar pela ansiedade e pelo consumismo excessivo, podemos aproveitar esse período para cultivar a paz interior e fortalecer nossos laços afetivos e ser no mundo, existir com humanidade.
O Natal nos convida a resgatar a simplicidade e a gratidão. Ao invés de buscarmos a perfeição em cada detalhe, podemos celebrar a autenticidade e a singularidade de cada momento. A árvore de Natal, por exemplo, pode ser adornada com enfeites feitos à mão ou com lembranças de momentos especiais, com fotos da família, com brinquedos das crianças, com afeto. Ao preparar o jantar, podemos envolver toda a família na cozinha, partilhar pratos, unir o que cada um pode ofertar, transformando esse momento em uma celebração da união e do amor.
A serenidade natalina também nos convida a refletir sobre o nosso papel no mundo. Ao invés de nos isolamos em nossas próprias bolhas, podemos buscar maneiras de ajudar aqueles que mais precisam. Pensar momentos coletivos de prática da gentileza, da compaixão e do voluntariado, o que pode trazer um profundo sentido de propósito e felicidade.
Neste Natal, que tal presentearmos a nós mesmos e aos nossos entes queridos com a dádiva da serenidade? Ao desacelerarmos, cultivarmos a gratidão e fortalecermos nossos laços afetivos, estaremos celebrando o verdadeiro espírito natalino e construindo um mundo mais justo e solidário.
A serenidade nos leva ao equilíbrio e a tranquilidade em aprender a discernir sobre nossa real necessidade em compreender as mudanças que nos cercam, a necessidade de plantá-las, regá-las, aguardar e observar seus frutos. Esses frutos e sementes deveriam apontar com brandura no seu tempo natural e não em nosso esforço desumano e técnico, em nossa pressa de não sentir a doçura tão esperada neles. Sem nossa presença serena e amorosa, a doçura da noite natalina se perderia e experimentaríamos o azedo ou amargo sabor das ausências, e da frieza que a solidão podem carregar. Esperançosos, portanto, vamos plantar novamente as sementes da presença, do afeto e da serenidade. Talvez, apesar do mundo acelerado e caótico, ainda exista espaço para a serenidade enraizar, dar novos frutos e, se tivermos aprendido a serenar, a refletir, iremos provar a essência verdadeiramente doce, do que é viver um verdadeiro Natal.
HEIDEGGER, M. Serenidade. Tradução de Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, 2000.
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