Por: Marli Dias Ribeiro
Os desafios femininos concentrados, descritos e denunciados na obra
de Dráuzio Varella: Prisioneiras. O livro é uma obra que com pioneirismo revela
a precária realidade das prisões femininas escondidas e esquecidas pela
sociedade.
O autor descreve com detalhes a rotina das presas e mostra em
narrativas reais o descaso do estado e o atual abandono social. O autor não se
afasta dos detalhes de histórias que nos chocam, mas nos convidam a sentir
cada mulher ali presa. Seus choros, gritos, desespero e sonhos!
A leitura que nos faz conhecer algumas mulheres e nos integra as tantas
outras milhares de mulheres e meninas, pretas, pobres, vulneráveis social e
economicamente. Se antes, a exclusão afetava suas vidas, na cadeia, a
estigmatizaçao escancara o abandono de maridos, namorados, filhos!
Dráuzio, de forma crítica e uma narrativa poética abre a caixa preta das
rotinas perversas escondidas entre paredes largas, grades enferrujadas e as
sombras do passado de cada uma das presas. Nas palavras de uma delas:
Ainda enlouqueço neste inferno. Cadeia foi feita pra homem, doutor, mulher
não tem procedimento. Aqui elas brigam até por um lugar no varal pra pendurar
a calcinha. Histórias comoventes de mães encarceradas, crianças expostas as
precárias condições das celas, escuridão, sujeira e injustiças. Muitas dessas
mulheres mulas, cúmplices e doentes.
Recomendo essa obra que faz parte de uma trilogia escrita a partir da
experiência de um trabalho voluntário do médico Varella realizado por anos na
Penitenciária Feminina da Capital São Paulo. O texto nos faz enxergar que
quando se trata das mulheres, o peso da culpabilização, reforça a ideia da
imagem feminina como símbolos dóceis, frágeis, impecáveis e servis. Que
essa leitura nos convide a repensar esse perfil cruel preconcebido e nos una
para humanizarmos os espaços femininos.
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