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Identidade – Zygmunt BAUMAN

Por: Anna Lydia


Quem você é? Como você se vê? Qual é o seu DNA? Qual é a sua identidade?


Livro que aprofunda a existência, a formação da essência do ser humano. Sociólogo de origem polonesa, Bauman considera essencial colher a verdade de todo sentimento, de seu estilo de vida e comportamento coletivo. O tema identidade assunto que é pela própria natureza intangível e ambivalente, o autor enfrentou o desafio e realizou com maestria a interlocução entre o entrevistado e o entrevistador. Foram trocas informais por e-mail que nos presenteou com tão profundas reflexões.


Nasceu então este livro, produzido pela editora Zahar, RJ, no ano de 2004, que reflete sobre as certezas e incertezas da vida do ser humano, que na sua plenitude ousa explicar a sensação de certezas passadas e incertezas futuras de suas vivências, construindo-se assim uma identidade.


Segundo Bauman, a vida é dividida em episódios, percepção esta distinta ao século XX, onde atualmente se vê uma sociedade individualizada. Tendemos a redefinir o significado da vida e o propósito da vida. Você tem que criar a sua própria identidade, pois você não a herda. A Construção dessa identidade inicia-se do zero, porém, todos passamos a vida redefinindo a nossa identidade.


Durante a leitura depara-se com mudanças de conceitos da era digital, da modernidade líquida, conceitos estes, bem diferentes dos conceitos sólidos, concretos, pertencendo a identidades estáveis, conceitos sociais. Com o advento da era digital tudo se tornou mais fluido, não há mais padrão de referência.


Ambivalência de conceitos na construção da identidade que podem ser intensos ou pacatos, ou quem sabe os dois juntos. Hoje o mundo polarizado que estamos inseridos por vezes dificulta na construção da identidade. Partindo do princípio, que na modernidade para se construir a identidade tem que ter voz imponente, firme e com pontos de vista extremos, como bem percebido.


Aos indivíduos que viveram na era analógica e hoje vivem na era tecnológica percebe-se grande diferença e dificuldade em adaptar-se, exigindo destes, uma mudança nos conceitos e novos olhares aos hábitos e costumes.


O ser humano em constante formação precisa se auto-afirmar, ter a sua própria identidade. A dificuldade nesta definição faz com que o radicalismo se evidencie.


Na realidade sólida havia-se referências fixas, ou seja, a família, a religião, as tradições, contribuíam para formação dos valores, caráter e sedimentavam a identidade do ser. Já na realidade líquida, tão bem definida pelo autor, os indivíduos não focam no objetivo, no que foi passado pela família ou na cultura a qual está inserido. Portanto, sem necessidade de focar no objetivo final, os indivíduos na era da modernidade líquida tornam-se obcecados por valores.


Percebe-se nestes indivíduos maior ansiedade ou angústia. O fim de uma escolha de valores fixos podem causar instabilidade e insegurança fragilizando a construção desta identidade. Daí o consumo ser imperativo e a busca pelo conhecimento, com o propósito da construção do senso crítico e a intelectualidade, vai dando espaço para a não profundidade dos assuntos, esvaziando seu repertório de conhecimentos.


O autor compara as escolhas, o hábito de consumo, como uma pessoa numa mesa de buffet, self-service, as escolhas são as que melhor lhe convier, melhor agradar.


Na modernidade líquida o conselheiro é a figura respeitada, detentora do saber e enaltecida em seus atos, comparando aos tempos de hoje, seria o coach, semelhante a figura do conselheiro, segundo Bauman.


O coach fala sobre algo que ele vivenciou, percorreu, passando ao ouvinte um caminho eficiente, gerando assim inquietudes e angústias, objetivando o papel de auto ajuda. Muitas bibliografias esvaziadas, sem comprovações científicas, porém fontes de seguidores e sucesso. Caminho eficiente a quem vê, tendo como exemplo chamadas como estas: como se tornar milionário com histórias de sucesso.


Política cotidiana dos tempos líquidos descortinam intimidades, questionam ações, limita-se ao bem estar individual. Nesta modernidade líquida a força do consumo tem o seu papel primário, identidades formadas a partir do consumo, ao que parece tentar suprir a falta de uma identidade sólida.


Na contemporaneidade o centro da construção cognitiva do indivíduo funciona com base no consumo, com base no desejo e no querer. Aquela frase: não basta ser, precisa parecer. Já ouviram esta frase? É preciso estar abertas as novas experiências.


Importante percebermos a diferença do ser humano em transformações para o dos tempos líquidos. Décadas atrás não se percebiam alterações ditas significativas, coisas importantes, como religião. Hoje o desejo de mudança parece ser algo obrigatório, desejo de querer a mudança e a não conservação de conceitos.


O indivíduo mutante não busca normalidade busca aptidão. A diferença é que a normalidade é o que definiríamos como os tempos sólidos, já aptidão seria mudanças sempre que necessário.


A identidade pós-moderna fez com que se pense nas coisas não duráveis, nas descartáveis, pensando-se como, durou o tempo necessário para ser aproveitada e logo é substituída. Bem exemplificado pelos eletrônicos, eletro domésticos, com a vida útil breve descartável, que consertar ficaria mais oneroso do que adquirir um bem novo.


Há uma cobrança de que o indivíduo da modernidade deva estar sempre antenado as mudanças do mundo e ser flexível para mudar também a sua identidade, como banalização, a ponto de ser jogada no lixo e adquiri-la uma nova. Pois bem, é preciso pensar nas consequências desta formação de identidade, perfazendo conceitos como responsabilidade e culpa. Quando somos nós os únicos a escolher o que seremos, o ônus e bônus recai sobre nós mesmos, sendo assim o sucesso e insucesso devem causar sentimentos.


Diante destes questionamentos recorremos aos ditos conselheiros ou coachs aquele já citamos neste texto, objetivando encontrar um caminho seguro com exemplos claros, vivenciados, sem que o mesmo se defina como autoridade.


Importante dizer que este conselheiro não tem argumentos científicos, não precisa provar sua teoria, mas precisa contagiar com sua experiência para que se defina como exemplo. A identidade dos tempos líquidos precisa ser vitrine, exibição. É cobrado o dever de saber se vestir, saber conviver nos grupos, usar os vocabulários e trejeitos dos guetos aos quais pertencem.


Cria-se então grupos distintos onde os menos privilegiados não acompanham a mudança, a moda, os hábitos do momento, as baladas e, por consequência, se frustram, criando um desequilíbrio emocional e um a desigualdade social descortinada.


Os hábitos consumistas das pessoas que tentam viver a vida fora dos padrões do mundo capitalista, talvez libertando-se falsamente deste cenário indo morar fora dos centros urbanos, não tendo carros, mas continuam aprisionados as normas da sociedade de consumo.


Neste livro passeamos pelos temas instigantes, como amores, religião, globalização, embalados pelas falas deste sociólogo e intelectual, Bauman. Que a vida continue no trilho, ou se dele sair, que nos deparemos com novas e encantadoras paisagens, de modo a vestir uma nova identidade, e nos despir de conceitos, se preciso for.


A vida líquida é uma sucessão de reinícios e precisamente por isso é que os finais rápidos indolores tendem a ser os momentos mais desafiadores e as dores de cabeça mais inquietantes.”(Bauman-2007)


Anna Lydia Collares

2021.1

UCP

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