top of page

MULHERES INDÍGENAS NA SOCIEDADE BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Por: Márcia Issenguele



De nacionalidade angolana. Residente no Brasil a mais de cinco anos. Atualmente é

cientista social, formada em Ciências Humanas, ministrado na Universidade da

Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e mestranda em

Ciências Políticas pela UFSCAR. Pesquisa sobre políticas educacionais em Angola e

representatividade feminina na União Africana. Faz parte do ELA desde o final de

2024.














Caros leitores, é com muito prazer que escrevemos para vós hoje este artigo, que é um pequeno fragmento do que temos discutido e abordado nos encontros de quarta-feira do ELA entre LIVROS. Um momento que eu chamo particularmente de “ELA entre ELAS”. Chique, né! Neste espaço terapêutico, buscamos ser nós mesmas e falar de temas que marginalizam as mulheres na sociedade contemporânea. Assim, aqui trazemos novos horizontes para entendermos o papel da mulher na construção da sociedade brasileira e não só. Nos encontros do “ELA entre ELAS”, tens a liberdade de se expressar e ser quem você é. Desse modo, fique à vontade para se juntar a nós nesse projeto social que tem impactado a vida de muitas mulheres.


Em busca de uma nova perspectiva de vida, encontrei no ELA a oportunidade de contribuir para uma sociedade cada vez mais justa e igualitária. Isso porque, durante a minha licenciatura em Ciências Sociais, me interessei muito por assuntos relacionados a mulheres. Sou angolana, e venho de uma sociedade estruturalmente patriarcal, mas que outrora tinha um sistema culturalmente matriarcal. Então, sei bem os desafios da mulher para ser entendida na sua plenitude feminina e cultural. Por isso, hoje vamos refletir um pouco sobre as mulheres indígenas na sociedade brasileira contemporânea.


A alteridade seria a palavra ideal para começar a definir o que propomos discutir aqui neste artigo. Alteridade é um termo que reconhece a existência de pessoas, culturas singulares e subjetivas que pensam, agem e entendem o mundo a partir da sua própria experiência de vida. É a partir desse pressuposto que eu compreendo a importância de valorizar a individualidade de cada sujeito social, sendo que a sociedade é um espaço multicultural estruturado por perspectivismo, uma vez que cada indivíduo tem a sua particularidade e modo de observar o mundo. Deste modo, respeitar e entender o outro é sinônimo de alteridade, algo que raramente vemos na sociedade contemporânea.


O Brasil é um país composto por vários grupos étnicos com diferentes manifestações culturais. Entretanto, os indígenas são os primeiros povos que habitavam o território brasileiro antes da invasão portuguesa, além dos povos afro-descendentes trazidos de maneira escravizada para as Américas. Assim sendo, eu percebo que no percurso da história brasileira, as mulheres indígenas desempenharam um papel fundamental para a construção e emancipação da sociedade, embora que a participação política, econômica e social dessas heroínas não sejam reconhecidas como deveria ser, fruto de um apagamento originário da história do Brasil. Porém, isso nunca foi motivo para que as mulheres indígenas deixassem de contribuir para o avanço da sociedade brasileira, pois elas são definidas pela resiliência e capacidade de cuidar da comunidade.


Nas comunidades indígenas, as mulheres são uma figura importante e desempenham vários papéis sociais. Elas têm um papel fundamental na transmissão de saberes, práticas e tradições ancestrais, além de serem agentes de resistência e luta pelos direitos indígenas, visto que são reconhecidas como líderes e vozes nas suas comunidades. Sem mencionar o fato delas serem também especialistas no ramo da medicina tradicional. Por exemplo, na cultura indígena do povo Pataxó, as mulheres anciãs, sempre tiveram a sabedoria das ervas, para cuidar da catapora, sarampo, caxumba, coqueluche, tuberculose e outras doenças.


O apagamento da história da mulher indígena no Brasil, me faz lembrar o que a Chimamanda Ngozi Adechie, escritora nigeriana, chama de “o perigo de uma única história”. Porque eu percebo que a história de emancipação da sociedade brasileira foi narrada a partir de uma única perspectiva hegemônica que desconsiderou em certa medida o valor destas bravas guerreiras na história brasileira. Dado que, quando a história tem um único ponto de vista, corpos são marginalizados e história são apagadas. E isso reflete muito o tipo de sociedade que temos.


Apesar de não estarmos no mês da mulher indígena, data celebrada desde 5 de setembro de 1983, em memória de Bartolina Sisa, mulher Quéchua, morta em 1780, durante a rebelião anticolonial de Túpaj Katari, no Alto Peru, região da atual Bolívia. No ELA entre ELAS, compreendemos a importância de refletirmos a respeito do lugar da mulher indígena na sociedade brasileira contemporânea, tendo em conta a relevância do seu papel social. Portanto, essa pequena reflexão leva o nosso imaginário a um período histórico que não vivenciamos, mas temos consciência que aconteceu, porque a nossa existência é fruto da resistência e resiliência dessas mulheres.


É válido afirmar que atualmente a sociedade tem moldado o seu olhar sobre o lugar da mulher indígena na esfera pública, apesar do esteriótipo oculto que raramente percebemos nos discursos da sociedade brasileira. Em contrapartida, para reforçar a importância destas mulheres para o desenvolvimento social e político, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), juntamente com a Coordenação de Gênero, Assuntos Geracionais e Participação Social (Cogen), têm atuado com o propósito de apoiar as mulheres indígenas na busca da não-discriminação e reforçar o papel delas na promoção do bem viver, levando sempre em consideração a diversidade e a especificidade de cada povo, uma vez que não existe um único povo indígena, mas sim povos indígenas.


Com isso percebemos que ao longo da história as mulheres indígenas no Brasil construíram diferentes maneiras de se organizar politicamente e institucionalizar as suas pautas e lutas sociais por meio de organizações, coletivos, fóruns, movimentos, núcleos, etc. Assim, vários são os desafios que as mulheres indígenas enfrentam na sociedade brasileira contemporânea, mas, procuramos olhar para a importância da participação social e política dessas mulheres no desenvolvimento e preservação da biodiversidade e cultura, de modo a manter viva a memória dos nossos ancestrais no Brasil.  


Caros leitores, nos despedimos na expectativa de nos encontramos novamente na nossa próxima leitura e outros espaços do ELA entre LIVROS.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

Dia Internacional da Mulher indígena - entenda a importância da data. Gov.br, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/funai/pt-br/assuntos/noticias/2023/dia-internacional-da-mulher-indigena-2013-entenda-a-importancia-da-data. Acesso em 20. Abr.  2025.

 

 

Mulheres indígenas em movimento. Socioambiental, 2025. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Mulheres_ind%C3%ADgenas_em_movimento. Acesso em 21. Abr. 2025.

 

PATAXÓ, Jacira. Os anciãos pataxó sempre tiveram a sabedoria das ervas. Socioambiental. 2024. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Os_anci%C3%A3os_patax%C3%B3_sempre_tiveram_a_sabedoria_das_ervas. Acesso em 20. Abr. 2025.

 

PORFÍRIO, Francisco. Alteridade. Brasil Escola. Disponívekl em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/conceito-alteridade.htm. Acesso em 20. Abr. 2025.

 

TED. Chimamanda Adichie: o perigo de uma única história. YouTube. 2009. 19 min.

 

Abraços.

 
 
 
bottom of page